

A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, fez uma verdadeira dança das cadeiras na companhia e passou o rolo compressor em cargos-chave da estatal, abrindo espaço para novos indicados da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do PT, ampliando o número dos ungidos destes. Toda essa movimentação causou alvoroço e apreensão nos funcionários de carreira.
Desta vez, a mira da presidente se concentrou nos postos de gerentes-executivos da área de exploração e produção, que administra os campos de petróleo, e também na de engenharia, responsável pela aquisição de equipamentos e serviços.
As gerências-executivas, cuja remuneração chega a cerca de R$ 80 mil, são o topo da carreira hierárquica operacional da Petrobras, estando apenas abaixo dos diretores. No dia-a-dia, esses gerentes-executivos têm mais poder e orçamento do que cargos maiores em empresas privadas. Alguns deles, juntos com os diretores, ainda integram o comitê que toma as decisões acerca de investimentos
Até o momento, 12 ocupantes de cargos de alta gestão na Petrobrás foram substutuídos. Dos oito gerentes de exploração e produção, cinco foram degolados e um remanejado. Apenas dois sobreviveram. Pelo menos até agora.
Novos nomes
O novo gerente-executivo do campo de Búzios é Wagner Victer, com passagem anterior pela Petrobrás, ex-secretário de energia do Rio de Janeiro nos mandatos dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho. Búzios é o maior campo de petróleo em águas profundas do mundo, produzindo 560 mil barris de petróleo por dia, o que corresponde, sozinho, a 17% da produção do país. A estatatal tem uma meta ousada de até 2028 aumentar a produção diária para 2 milhões de barris extraídos.
Outro nome é o de Eduardo Costa Pinto, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ligado à FUP, onde é pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). Ele passa a ocupar a gerência-executiva de gestão de parcerias e processos de Exploração e Produção. Pinto será o responsável pelas parcerias da Petrobras com outras empresas, pela gestão do portfólio da companhia, avaliação do desempenho dos campos e decisões sobre projetos bilionários. Ele foi indicado para a Petrobras em 2023 e ocupou o cargo de assessor especial do ex-presidente Jean Paul Prates.
O que chama a atenção é que Eduardo Pinto não tem experiência executiva na área de petróleo e que, nas redes sociais, é crítico aberto do plano de arcabouço fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que denomina de a “reforma conservadora de Haddad”. Por outro lado, defende, também abertamente, o “confronto” do presidente Lula contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em anos anteriores, Eduardo Costa Pinto fez críticas severas à distribuição de dividendos extraordinários da Petrobras no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nas gestões passadas de Lula, falsobre o mesmo assunto, citou “farra dos dividendos”. Entretanto, após assumir o cargo de assessor da presidência da empresa, as críticas desapareceram. Somente no primeiro trimestre de 2024, o então presidente Jean Paul Prates, a quem Pinto assessorava, aprovou repasse de cerca de R$ 22 bilhões para os acionistas.
Wagner Victer e Eduardo Pinto desbancaram funcionários de carreira da empresa.
Ao blog de Malu Gaspar, do jornal O Glob, o presidente da FUP, Deyvid Bacelar, elogiou a indicação de Victer. “Excelente engenheiro e profissional que atua com maestria e profissionalismo em defesa da Petrobrás e da soberania nacional”. Sobre Pinto, também rasgou palavras elogiosas. “Um dos melhores professores e economistas que conheço”.
Petista ou Bolsonarista
Wagner Victer foi indicado no início de 2023 para o Conselho de Administração da Petrobras, mas seu nome foi barrado e substituído de última hora. Na época, ele foi taxado de “bolsonarista” pela FUP, que hoje o elogia, embora, também na ocasião, sua nomeação tenha sido atribuída ao PT fluminense.
Também a gerência-executiva de Sistemas de Superfície, Refino, Gás e Energia tem novo nome: Flávio Fernando Casa Nova da Motta. Motta já ocupou o cargo de gerente-geral de engenharia do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e também já foi gerente de empreendimentos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Ele será o comandante das licitações para a realização de contratos de projetos que envolvem a construção de plataformas, obras de refinarias e terminais de gás. A expecativa é que todos esses projetos envolvam cerca de US$ 14 bilhões por ano.
Esses empreendimentos foram paralisados em 2015, depois de a Lava-Jato verificar que os contratos, à época, envolveram o pagamento de propina. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), os projetos acarretaram um prejuízo de US$ 27 bilhões no total.
Preocupações com as mudanças
As mudanças que atingem em cheio a área de exploração e produção, tem gerado muita preocupação internamente na empresa, já que o setor é tido como a “alma” da companhia. Alguns chegam a relembrar que “nem no primeiro mandato de Lula se trocou tanta gente”.
Versões e interpretações
Por um lado, grande parte das preocupações internas é porque os executivos degolados eram vistos como técnicos, qualificados e cotados para postos maiores em um futuro próximo. Por outro lado, o entorno da atual presidente, Magda Chambriard, afirmam que a maior parte das trocas se deu porque os executivos eram muito novos e com pouco tempo no cargo, e que Magda queria funcionários com mais experiência.
O que se fala é que as mudanças emanam sinais da boa vontade de Magda Chambriard em atender à Lula e ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Outras trocas
Ainda na área de E&P, foram igualmente trocados os gerentes-executivos João Jeunon (Libra), Francisco Queiroz (Terra e Águas Rasas) e Ricardo Morais (Águas Ultraprofundas).
Na Diretoria Financeira, Marina Quinderé, gerente-executiva de Suprimentos e responsável pelas contratações da estatal, também perdeu o cargo. Já na Diretoria de Tecnologia e Engenheria, Mariana Cavassin, gerente-executiva de Implantação de Projetos de Produção, também se despede da função na estatal.
Os novos nomes ainda não foram confirmados pela empresa.
Jefferson Rudy / Agência Senado