

Após deixar a Presidência, Jair Bolsonaro continuou articulando politicamente, conforme revelam mensagens de seu celular, apreendido pela Polícia Federal (PF).
Os diálogos, obtidos pelo Estadão, mostram como o ex-presidente se mantinha ativo nos bastidores, interagindo com deputados, empresários e sua rede de contatos para manter sua influência durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O material, extraído do celular em 3 de maio de 2023, durante uma operação que investigava fraudes em certificados de vacinação, inclui 7.268 arquivos, como conversas de WhatsApp, documentos, áudios e vídeos.
Importante destacar que esse celular não é o mesmo apreendido na operação de 18 de julho, quando Bolsonaro foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
Bolsonaro e a CPI contra o STF
Em uma das conversas, Bolsonaro orientou o deputado federal Hélio Lopes (PL-RJ) a apoiar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e outros magistrados.
Em áudio de 26 de abril de 2023, Lopes perguntou: “Boa noite, presidente. A galera tá me instruído aí porque Eduardo, todo mundo assinou essa CPI de abuso de autoridade do TSE e do STF e eu não assinei até agora porque… eu não queria entrar nessa bola dividida, com medo de dificuldades até o senhor mesmo nas decisões lá. O que o senhor acha aí mais ou menos?”
Bolsonaro respondeu: “Eu controlaria. Sempre existe a possibilidade de retaliações”. Após a orientação, Lopes confirmou: “Já assinei”.
Na sexta-feira, 25 de julho, Lopes montou uma barraca na Praça dos Três Poderes, perto do STF, em protesto contra as medidas judiciais impostas a Bolsonaro por Moraes.
Com esparadrapo na boca, ele criticou as decisões do ministro. No mesmo dia, Moraes determinou a remoção do acampamento, e no sábado, 26, a praça foi cercada por grades.
O ministro justificou a medida como precaução para evitar episódios como o de 8 de janeiro.
Viagem a Israel com despesas pagas
Outro diálogo revela que o ex-embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, ofereceu custear uma viagem de Bolsonaro ao país em 2023.
A conversa, registrada no final de abril, ocorreu dias antes da operação da PF sobre fraudes em certificados de vacina. Shelley, que foi embaixador entre 2017 e 2021, tinha boa relação com Bolsonaro.
Durante seu governo, o ex-presidente chegou a prometer transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, mas recuou após críticas.
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