

Beneficiários do plano de saúde Ampla Saúde (Gama Saúde), administrado pela Qualicorp, foram surpreendidos com reajustes classificados como abusivos na mensalidade de setembro deste ano.
Em um dos relatos, uma moradora de Salvador disse que sua mensalidade subiu de R$ 457,37 para R$ 624,22, um aumento de quase 36%. “Esse reajuste é abusivo e desproporcional. Não apresentaram nenhum demonstrativo que explique o aumento”, afirmou.
Outro consumidor relatou que o plano da filha também sofreu alta de 36%, mesmo após a migração para a administração da Qualicorp. “De onde vocês tiraram essa taxa? Vou recorrer ao Procon e à ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar]”, disse o pai.
O terceiro caso também ocorreu na capital baiana. Uma beneficiária contou que pagava R$ 592,13, mas o valor subiu para R$ 738,70. “A comunicação com eles sempre é muito ruim. Para fechar contrato, são rápidos. Mas quando o cliente precisa de resposta, eles desaparecem”, afirmou.
REAJUSTE LIMITADO PELA ANS
Em junho deste ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou que os planos de saúde individuais e familiares só podem ter reajuste de até 6,06%.
O reajuste vale para o período entre maio de 2025 e abril de 2026. A medida atinge cerca de 8,6 milhões de beneficiários, o que representa 16,4% do total de consumidores de planos de assistência médica no Brasil.
Segundo a diretora-presidente interina da ANS, Carla Soares, o cálculo considera os custos das operadoras e a frequência de uso dos serviços em 2024.
“O objetivo é proteger o consumidor de aumentos abusivos e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade do setor”, disse.
COMO É CALCULADO O REAJUSTE
O percentual é definido a partir de duas variáveis:
- o custo dos procedimentos médicos, insumos e frequência de uso;
- a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), descontado o item plano de saúde.
Essa metodologia é aplicada desde 2019 e, segundo a ANS, traz mais transparência ao processo. Em 2024, as despesas assistenciais dos planos individuais cresceram 9,35% em relação a 2023. Isso inclui desde o aumento no preço de insumos até a maior procura por consultas, exames e procedimentos.
DIFERENÇA EM RELAÇÃO À INFLAÇÃO
A ANS destaca que não é correto comparar o reajuste dos planos de saúde com os índices de inflação. Enquanto a inflação mede apenas a variação de preços, o índice de reajuste considera também a quantidade de serviços utilizados pelos beneficiários.
QUANDO O REAJUSTE DEVE SER APLICADO
O reajuste pode ser aplicado somente no mês de aniversário do contrato. Nos contratos com aniversário em maio e junho, a cobrança pode começar em julho ou agosto, mas deve respeitar a retroatividade. Os consumidores precisam verificar nos boletos se o aumento aplicado é igual ou menor que 6,06%.
MENSAGEM DA QUALICORP PARA USUÁRIOS
De acordo com apuração feita pela reportagem, a Qualicorp chegou a enviar um comunicado sobre o reajuste. A operadora justificou para seus usuários que, “de acordo com a regulação da ANS e as condições contratuais vigentes”, a operadora decidiu aplicar um reajuste de 36,48% a partir de setembro de 2025. O aumento é válido para contratos coletivos por adesão.
A empresa também afirmou que não houve reajuste em 2024 e que, por isso, o valor da mensalidade vinha sendo mantido por 24 meses, exceto pelas mudanças de faixa etária. Segundo a mensagem, o cálculo considerou apenas os últimos 12 meses de vigência do contrato.
O QUE DIZ A QUALICORP
A reportagem entrou em contato com a Qualicorp, nesta quarta-feira (10), e aguarda um posicionamento da empresa. O espaço segue aberto para manifestação da administradora. Esta matéria será atualizada caso a operadora envie uma resposta oficial.
Reprodução / Site Qualicorp